O ciclo da VIOLÊNCIA DOMÉSTICA e suas fases: saiba como sair dele

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“A mulher que sofre violência física e emocional não fala sobre o problema por um misto de sentimentos: vergonha, medo, constrangimento, etc”.

O agressor, por sua vez, perverso narcisista em sua maioria, constroe uma autoimagem de parceiro perfeito, bom pai, genro prestativo e excelente amigo dentro do ciclo social da família, dificultando a revelação da violência pela mulher, que teme não ter aliados e começa a questionar sua própria culpa e se é merecedora daquele tratamento. Por isso, é inaceitável a ideia de que a mulher que permanece na relação violenta, o faz por gostar de apanhar ou porque tem culpa”.

Essa é uma conclusão dos pesquisadores e agentes sociais do Instituto Maria da Penha – uma organização não governamental sem fins lucrativos fundada em 2009, com sede em Fortaleza e representação em Recife. O instituto está diretamente ligado à história de vida de Maria da Penha, que se tornou um símbolo de luta no combate à violência doméstica contra a mulher.

Nós do Direito, que trabalhamos pelo fim da violência doméstica, não temos dúvida de que a visão e o entendimento das tramas de toda essa teia emocional, que envolve as relações abusivas é fundamental para que a vítima consiga sair dela com vida.

Para lembrar

A Lei n. 11.340/2006 leva o nome de Maria da Penha como uma forma de reparação simbólica, depois de tantos anos de omissão do Estado brasileiro e de impunidade do seu agressor. Ela também representa o acesso à justiça, e foi criada para garantir os direitos de milhares de mulheres vítimas de violência no País.

Fundado pela própria Maria da Penha, o instituto nasceu com o firme propósito de estimular e contribuir para a aplicação integral da lei, bem como monitorar a implementação e o desenvolvimento das melhores práticas e políticas públicas para o seu cumprimento. Para tanto, além de estudos, a entidade oferece um grande de serviço de orientação sobre violência doméstica.

Neste post, trazemos para você, no nosso blog, algumas informações importantes divulgadas pelo instituto, em um artigo da psicóloga norte-americana Lenore Walker, que aborda e traz um entendimento claro das várias faces e especificidades da violência doméstica, segundo a qual “as agressões cometidas em um contexto conjugal ocorrem dentro de um ciclo que é constantemente repetido”. Lenore Walker detalha bem a essas etapas. Veja:

1) Momento inicial: aumento da tensão

Nesse primeiro momento, o agressor mostra-se tenso, irritado, triste e infiel por coisas insignificantes.

Nos casos em que o agressor tem o perfil de violência física declarada, chega a ter acessos de raiva, faz ameaças, humilha e destrói objetos como forma de amedrontar e diminuir a autoestima da vítima.

Nos casos em que o agressor tem o perfil de violência emocional velada e quer tomar pra si o controle emocional e mental da vítima, o ciclo se inicia com chantagens emocionais, tristeza e isolamento como forma de confundir a percepção da mulher; ou sinais de traição para atingir a sua autoestima.

A mulher tenta acalmar o agressor, fica aflita por não conseguir ajudá-lo, evita qualquer conduta que possa “provocá-lo”, e passa a fazer qualquer coisa para agradar. As sensações são muitas: tristeza, angústia, ansiedade, medo, baixa auto estima, insegurança, sensação de impotência e desilusão, são apenas algumas.

Em geral, a vítima tende a negar que isso está acontecendo com ela, esconde os fatos das demais pessoas e, muitas vezes, acha que fez algo de errado para justificar o comportamento violento do agressor, ou que “ele teve um dia ruim no trabalho”, ou que está depressivo e carente porque não tem sido a companheira ideal na cama, está feia, gorda ou velha demais, por exemplo. Essa tensão pode durar dias ou anos, mas como ela aumenta cada vez mais, é muito provável que a situação levará à Fase 2.

2) Eclode a violência

Esta fase corresponde à explosão do agressor declarado, ou seja, a falta de controle chega ao limite e leva ao ato violência efetiva. Aqui, toda a tensão acumulada na Fase 1 se materializa em violência verbal, física, psicológica, moral ou patrimonial.

Nos casos de violência física declarada, mesmo tendo consciência de que o agressor está fora de controle e tem um poder destrutivo grande em relação à sua vida, o sentimento da mulher é de paralisia e impossibilidade de reação por medo. Aqui, a vítima sofre de uma tensão psicológica severa (insônia, ódio, vergonha, perda ou ganho de peso, fadiga constante, ansiedade) e muito, muito medo,

Nos casos de violência emocional, os atos de efetiva agressão são sutis e constantes no início, depois, são velados em uma mistura de atos extremamente perversos, seguidos de atitudes de carinhos pontuais que confundem a vítima, ao ponto de pensar que ao invés de violentada, ela é amada, “do jeito dele, ele me ama”. Dessa forma o agressor emocional, muitas vezes perverso narcisista, se mostra perfeito quando está perto de outras pessoas, principalmente parentes e amigos, os quais são convencidos de ser ele um exemplo de companheiro perfeito. Aqui, a vítima sofre de profunda tristeza que a consome por dentro, isolamento e solidão, pena e vergonha de si mesma, baixíssima autoestima, confusão mental e emocional. A tendência é a depressão, em alguns casos o agressor confunde a vítima a tal ponto que a faz pensar que é louca, vendo coisas onde não existe, tem mania de perseguição, etc. Daí pra frente, o perverso narcisista tem sua vítima totalmente dentro do cativeiro, isolada de tudo e todos, pois além de convence-la de ser tudo isso, ainda convence a família e os amigos, de modo que, daí para leva-la a um tratamento psiquiátrico pesado pelo resto da vida, custa muito pouco.

Nesse momento em ambos os tipos de violência só há uma maneira de sair do cativeiro com vida, PEDIR AJUDA à pessoa certa, um psicólogo ou a um advogado, que não seja machista ao ponto de pensar que tudo isso é normal já que a mulher é o sexo frágil. E quando falo isso, não me refiro a advogados ou psicólogos do gênero masculino não, mas sim a profissionais homens e mulheres que tem convicções machistas até hoje, os quais de maneira involuntária têm o condão de corroborar na cabeça e no coração de uma mulher agredida que ela é culpada de tudo que está passando.

3) O arrependimento e o uso do carinho

Uma vez identificado pelo agressor que sua vítima tomou a bala da verdade, ele vai lutar com todas as forças para reverter a situação para não perder o controle sobre ela, já que sendo perverso narcisista precisa e é dependente dessa sensação de poder que exerce sobre sua presa. Além do que, caso tudo venha a tona, ele terá sua máscara tirada e perdera a admiração daqueles que enganou durante anos.

Aqui inicia a conhecida Fantasia de “lua de mel”, esta fase se caracteriza pela farsa do arrependimento do agressor, que se torna amável para conseguir a reconciliação. A mulher se sente confusa e pressionada a manter o seu relacionamento diante da sociedade, sobretudo quando o casal tem filhos. Em outras palavras: ela abre mão de seus direitos e recursos, quando ele diz que “vai mudar”.

Há um período relativamente calmo, em que a mulher se sente feliz por constatar os esforços e as mudanças de atitude, lembrando também os momentos bons que tiveram juntos. Como há a demonstração de esforça, ela se sente responsável por ele, o que estreita a relação de dependência entre vítima e agressor.

Um misto de medo, confusão, culpa e ilusão fazem parte dos sentimentos da mulher nesse momento. Por fim, a tensão volta e, com ela, as agressões da Fase 1 e 2.

Segundo a psicóloga Lenore Walker, com o tempo, os intervalos entre uma fase e outra ficam menores, e as agressões passam a acontecer sem obedecer à ordem das fases. Em alguns casos, o ciclo da violência termina com o feminicídio. Ressaltando que, enquanto as vítimas silenciam diante da violência, o agressor não se sente responsabilizado pelos seus atos. Além disso, a sociedade, historicamente machista, tende a encobrir os seus abusos.

Com sorte, quem entra em um relacionamento violento e abusivo com um perverso narcisista, e se mantém dentro desse ciclo vicioso, só conseguirá sair do cativeiro emocional com a ajuda correta de profissionais bem preparados e acolhedores.

Afinal de contas, o Direito das Famílias, especialmente no trato de vítimas de violência emocional e física no âmbito familiar, deve ser conduzido por profissionais, não só experientes, humanizados e acolhedores; mas também corajosos para lutar pela integridade física, emocional, mental e financeira de sua cliente.

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